Epidemia de violência
Hoje, dia 2 de junho, faz seis anos que o jornalista Tim Lopes morreu.
Hoje, dia 2 de junho, eu, que também sou jornalista, apesar de não "estar" (porque quem é jornalista de verdade nunca deixa de ser), senti-me culpada.
Hoje, dia 2 de junho, é uma segunda-feira cinzenta, como merece ser todo dia 2 de junho, de seis anos para cá.
Hoje, dia 2 de junho, resolvi encarar o sentimento incômodo que toma conta de mim toda vez que lembro do ocorrido com Tim Lopes. E, aí, descobri que esse sentimento tem nome: culpa.
Culpa porque percebi que eu também matei Tim Lopes, como todos aqueles que, jornalistas ou não, pactuam com o crime direta ou indiretamente.
Cada vez que um DVD pirata é comprado, cada vez que um(a) babaca compra maconha, cada vez que viramos o rosto para uma cena de violência, cada vez que votamos em um político sem pesquisar sobre suas intenções e cada vez que um deles sobe ao poder e não cobramos que suas promessas sejam cumpridas, matamos Tim Lopes mais um pouco.
Porque chegamos a um ponto em que a participação indireta é tão criminosa quanto a direta. Os assassinos do jornalista não foram só os traficantes que o torturaram e o queimaram vivo, mas também todos aqueles que antes e depois disso continuam oferecendo subsídios para que o tráfico permaneça forte e cada vez mais poderoso.
Em um domingo, dia 2 de junho de 2002, enquanto a maioria dos trabalhadores aproveitava o fim de semana com sua família, Tim Lopes estava em uma favela investigando denúncias e buscando dados para elaborar uma reportagem em prol dos moradores da Penha, no Rio de Janeiro.
Em um domingo, dia 2 de junho de 2002, quando Alessandra - sua esposa - gostaria de estar assistindo a um filme ao lado de seu marido, ou quando Bruno e Diogo - seus filhos - precisavam da ajuda do pai em uma tarefa escolar, Tim Lopes dedicava-se, por eles e para eles, a fazer a diferença em busca de um País mais justo e menos criminoso.
Domingo, dia 2 de junho de 2002, Alessandra, Bruno e Diogo viram o sorriso de Tim Lopes pela última vez. Admiraram pela última vez o brilho nos olhos que todo jornalista investigativo traz consigo antes de sair para uma reportagem.
Tim Lopes morreu fazendo a sua parte. E hoje, dia 2 de junho, ainda estamos vivos para fazermos a nossa.
Um comentário:
Gomen kudasai.
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